Após os gritos, é muda
a resposta dela. Silencia a voz e fala pelos poros, pelos modos, pelos olhos. É
muda, mas nunca nula a resposta dela. Isso é o que enfurece os comandos,
desestabiliza os berros dos homens. Eles são e se veem gigantes, pisam com as
imensas botinas ruindo o chão.
Quando chegam perto,
ela treme, mas permanece firme naquilo que há de mais interno ao corpo, aquilo
que se deixa ver aos olhos. Eles gritam barbáries, martelam os muros, mas nada
fura o bloqueio. Ela nunca responde. A voz lhe é mais íntima, não merecida aos
ouvidos que não buscam ouvir, mas mastigar e cuspir tudo que ela dissesse.
Se dissesse.
Ela é como uma
estátua – de longe poderiam confundir com uma boneca, um manequim, mas ela não
cede – para derrubar só com todos os golpes possíveis. Ela desmorona em algum
momento, mas mesmo enquanto se desfaz, os pedaços permanecem sérios no encaro.
Ás vezes eles ainda
param, por mais que não desejem parar. Os olhos dela não são os mais corajosos
ou intrépidos, mas há algo nele que se mantém. Os olhos deixam ver tudo em que
lhe dilaceram. Não afetam invencibilidade. Nos olhos estão todas as feridas e
ela dentro das feridas, mas sempre ela, tão ela, isso eles não matam.
Ela estátua, só olha os
gritos. As ordens chegam usando botinas mas não afetam tanto quanto
acreditariam, metade do medo entra no corpo mas a outra metade ricocheteia nos
olhos e lhes pega inteiros, desprevenidos, na boca do estômago. Sentem medo em
seus fundos. Guardam sempre algo mudo nas vozes que ficam cada vez mais altas.
Por mais que ordenem ela não responde, mas responde muito mais na forma como se
ergue e olha, no mais perfeito interior da íris, onde o que ela fala encontra
os vazios de fala deles e ela então discursa como uma estátua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário