Ele anseia de corpo
inteiro. Inspira como se em um respiro fosse capaz de ingerir o ar entocado em
cada canto da casa e em seguida empurra no expiro todo o ar de volta aos seus lugares
de origem. O peito que sobe e desce é o único movimento que faz. De resto, só
há o movimento das pás do ventilador no teto. O quarto só não pareceria
silencioso para ele, que a partir da respiração está no centro do barulho.
Sente que nunca mais vai levantar da cama, nem quer. Porque de nada adianta
colocar os pés para fora do quarto, da casa, de nada vale sair na praça se não
vai criar as asas. Se em lugar algum encontra a liberdade. Por isso permanece
na cama, e ansiando. Hoje mais cedo teve um pensamento esquisito, mas de uma
forma estranha apaziguador. Precisava desse pensamento para que não fosse até o
fim, criou como o último recurso, e se nas pernas não havia esperança, se na
vontade não havia impulso que fosse o bastante, era preciso criar uma ideia
como a última braçada.
E desde que nasceu o
pensamento, seu corpo ainda está no mesmo lugar mas ele sente que já foi até o
fundo de si e voltou.
Descobriu o segredo da
mobilidade. A ideia era mais ou menos a seguinte: que mover-se não se tratava
de uma questão física, corporal necessariamente, podia-se estar fora mesmo sem
estar, como com uma música ou livro. Ele era incapaz do mergulho afora, poderia
sair da casa, mas as salas, os quartos não sairiam dele, ele não sabia
liberdade. Não tinha o tino de se buscar rua afora. Sair não funcionava em seu
corpo, então ele entrava corpo adentro. Se ao fechar os olhos como agora
conseguia enxergar mares, planetas, pessoas que o amam e brindam, se consegue
enxergar qualquer coisa que deseja enxergar é porque todas essas coisas já
estão ali. E ali não é imóvel, ele se transporta em um piscar de olhos, pode
até ser outro. Como se dentro da respiração houvesse outra liberdade.
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