quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Meditação

Cachorros passeiam com pessoas em um parque em tons sépia.
Do centro de minha mão se dividem meu corpo e a extensão do universo.
Meus dedos tocam os olhos de dentro de mim.
Os sapatos pisam gritos da terra.
O vento me amacia os pelos.
O vento me enovela os medos.
Meus medos, eu os planto no meio do parque. Cresce nova árvore de galhos angustiados na cidade, e as velhas flores amarelas e medrosas.
As pessoas nos ônibus e carros são galhos retorcidos de uma árvore em forma de edifício.
A música mascara o som das vozes, que mascara o som do vento, que mascara o som do abismo (que está na tua garganta)
O abismo está entre uma gramínea e outra. Carregamos abismo na poeira do sapato e na respiração. O abismo está nessa palavra. Esta.
Os cachorros e pessoas sépia talvez reconheçam o abismo quando faltar o fôlego. Vão inspirar um pouco mais, e expirar pedaços de abismo que se grudam às pedras do parque.