Cachorros
passeiam com pessoas em um parque em tons sépia.
Do
centro de minha mão se dividem meu corpo e a extensão do universo.
Meus
dedos tocam os olhos de dentro de mim.
Os
sapatos pisam gritos da terra.
O
vento me amacia os pelos.
O
vento me enovela os medos.
Meus
medos, eu os planto no meio do parque. Cresce nova árvore de galhos angustiados
na cidade, e as velhas flores amarelas e medrosas.
As
pessoas nos ônibus e carros são galhos retorcidos de uma árvore em forma de
edifício.
A
música mascara o som das vozes, que mascara o som do vento, que mascara o som
do abismo (que está na tua garganta)
O
abismo está entre uma gramínea e outra. Carregamos abismo na poeira do sapato e
na respiração. O abismo está nessa palavra. Esta.
Os
cachorros e pessoas sépia talvez reconheçam o abismo quando faltar o fôlego. Vão
inspirar um pouco mais, e expirar pedaços de abismo que se grudam às pedras do
parque.