Desaprendi
de apanhar joaninhas. Nunca olhei para elas, estiveram distantes, e eu alheia,
era urbana apesar dos campos. Era citadina porque impessoal. Era o outro, porque
minha cidade era toda feita de outros. Como se pega uma joaninha? Nunca peguei
numa joaninha e nunca deixei que nenhuma me pegasse, tocasse, se fizesse
compreender. Joaninhas sempre foram bichos porque sempre fui cinza. E distante.
Não, as joaninhas nunca fizeram parte e aparte eu sempre vivi como se me
apartasse de verdade, como se fosse menos que um coletivo de joaninhas, eu,
inseto do mato preso em potinho, eu de tamanho pequeno, cinza e fria, tão eu,
joaninha, sozinha, eu.
Peguei.
Ela
circula em meu braço como se fosse eu galho, árvore de mundo perdido. Nem ligo
que não seja vermelha, nem ligo para o pequenino de seu abraço, ela dança em
meu braço e eu a amo. Chamo seu nome em língua que não existe. Redescobri algo.
Reamei febrilmente. Sou febril de afetos ao redescobrir a joaninha, a grama
molhada, o parque, o bem-te-vi que não enxergo, uma paz que me comunica algo
mais que um braço cinza onde joaninha alguma pousara antes.
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