domingo, 21 de maio de 2017

Achados

Desaprendi de apanhar joaninhas. Nunca olhei para elas, estiveram distantes, e eu alheia, era urbana apesar dos campos. Era citadina porque impessoal. Era o outro, porque minha cidade era toda feita de outros. Como se pega uma joaninha? Nunca peguei numa joaninha e nunca deixei que nenhuma me pegasse, tocasse, se fizesse compreender. Joaninhas sempre foram bichos porque sempre fui cinza. E distante. Não, as joaninhas nunca fizeram parte e aparte eu sempre vivi como se me apartasse de verdade, como se fosse menos que um coletivo de joaninhas, eu, inseto do mato preso em potinho, eu de tamanho pequeno, cinza e fria, tão eu, joaninha, sozinha, eu.
Peguei.
Ela circula em meu braço como se fosse eu galho, árvore de mundo perdido. Nem ligo que não seja vermelha, nem ligo para o pequenino de seu abraço, ela dança em meu braço e eu a amo. Chamo seu nome em língua que não existe. Redescobri algo. Reamei febrilmente. Sou febril de afetos ao redescobrir a joaninha, a grama molhada, o parque, o bem-te-vi que não enxergo, uma paz que me comunica algo mais que um braço cinza onde joaninha alguma pousara antes.

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