segunda-feira, 29 de julho de 2019

buraco

um dia

acabou a música.

gritei aos céus

e atiraram pedras frias.

criavam lacunas

que eu expulsava

como se expulsa um cisco.


as pedras

sulcaram no rosto

uma colmeia.

romperam as veias.


e a música.

nada no céu.

e no meu corpo.

a surdez das pedras.


sábado, 27 de julho de 2019

parada

aqueles que me ultrapassam são outros

e eu sou sua outra

o rosto rouco da espera


aqui!, mas o ônibus ri

passa reto e sem ninguém

(todo ônibus tem o desejo 

secreto de levar ninguém)


sisudas rodas no asfalto

seu único calor é o atrito

braço adiante – estou aquém

de sua ânsia de rodar

meu grito não alcança ser grito

sou roda de pedra

e com trava