quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Das razões de paralisar a escrita e das razões de seu retorno

Eu não sei escrever nada daquilo que queria escrever. Parece que minha boca se fechou, os dedos estão duros, como se o tato tomasse a derradeira consciência de tudo aquilo que não sei. Houve uma voz um dia – era reprimida, mas era uma voz – agora se move estranha por essas linhas. Tudo muito falso. Em verdade, nem sei se subsiste ainda. Anda torta e em fragmentos. Eu não sei o que faço com essa compulsão por escrever quando o conteúdo me lacuna. Não adianta encher as páginas de uma sílaba ou uma palavra só. Não adianta escrever Vontade Vontade Vontade até o fim desse caderno. O que meu corpo deseja é a mágica das palavras se encadeando umas nas outras em comboio. A vaidade fracassada de ter frases só minhas. Mas essa caneta rabisca sem roteiro e sem sentido, não vai sair mais nada daqui. Nem sei por que persisto. Olho para o caderno e dá uma dor – sei que não há mais o que dizer – sei que não sei dizer – sei, e admito isso com relutância, que talvez eu nem precise dizer, e essa necessidade que me imponho pode até ser falsa – mas eu não consigo, não consigo não dizer tudo isso que nem sei dizer.

Um comentário:

  1. Eu penso que sim, tudo em ti sobrevive, tudo vive. E até mesmo quando tu fala e sente em teu texto, talvez tu fale não só de ti, mas de outras gentes, que nem sabe dizer o que não te parece fácil, mas é mágica quando tu diz e gente como eu, lê.
    Bom fim de semana.

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