Eu não sei escrever nada daquilo que queria escrever. Parece que
minha boca se fechou, os dedos estão duros, como se o tato tomasse a derradeira
consciência de tudo aquilo que não sei. Houve uma voz um dia – era reprimida,
mas era uma voz – agora se move estranha por essas linhas. Tudo muito falso. Em
verdade, nem sei se subsiste ainda. Anda torta e em fragmentos. Eu não sei o
que faço com essa compulsão por escrever quando o conteúdo me lacuna. Não
adianta encher as páginas de uma sílaba ou uma palavra só. Não adianta escrever
Vontade Vontade Vontade até o fim desse caderno. O que meu corpo deseja é a
mágica das palavras se encadeando umas nas outras em comboio. A vaidade
fracassada de ter frases só minhas. Mas essa caneta rabisca sem roteiro e sem
sentido, não vai sair mais nada daqui. Nem sei por que persisto. Olho para o
caderno e dá uma dor – sei que não há mais o que dizer – sei que não sei dizer –
sei, e admito isso com relutância, que talvez eu nem precise dizer, e essa
necessidade que me imponho pode até ser falsa – mas eu não consigo, não consigo
não dizer tudo isso que nem sei dizer.
Eu penso que sim, tudo em ti sobrevive, tudo vive. E até mesmo quando tu fala e sente em teu texto, talvez tu fale não só de ti, mas de outras gentes, que nem sabe dizer o que não te parece fácil, mas é mágica quando tu diz e gente como eu, lê.
ResponderExcluirBom fim de semana.