Golfinhos por toda a parte, por baixo e por cima das águas, em um azul
onde eu nunca poderia pertencer. Me perdi no sorriso de um, que nem parecia animal – muito menos humano – era todo
sensação. E dentro dele eu nadava, era também golfinho, também sabia sorrir.
Coberta de água que era salgada mas não eram lágrimas, pensei a minha
possibilidade de ser golfinho. Hoje penso que nunca seria, esse eterno colocar
em palavras me impede, a racionalidade cronológica me tira do mar, não me deixa
mergulhar por mais que eu queira. Era sem eira nem beira esse desejo de ser
golfinho e ser livre sem medo de ser a próxima presa, sem necessidade de
exibição, apenas a pulsão do momento de pular, a felicidade extrema de saber o
salto como objetivo último e ser menos corpóreo e mais dissipado no ar. Mas eu
não pensava em nada dessas coisas tristes que questiono agora de fora do mar.
Lá dentro, vivendo eu-golfinho só havia o momento de ser e nada mais. Como a
paz de uma meditação, molhada de água e desejo seguindo a ação de meus
impulsos. Porque obviamente era eu e mais ninguém, e eu era livre,
perfeitamente livre naquela pele de animal, em uma energia que do jeito
que me envolvia não tinha como não saber que era selvagem. Era um gozo que
não tinha absolutamente nada de mim no meio. Era corpo sem fome e sem anseios
além de pular e gritar, num átimo de sorriso espalhando nas águas o sangue de
minha alegria. E só em falar em sangue eu já sei que volto a ser eu. Como
golfinho tudo era sobre água, ar e ser. Agora volto a sangrar. Não há melhor
maneira de me saber humana.
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