Pouco
importa se teu corpo espinha enquanto te mantém aí sentado, e todos teus
cabelos se ouriçam, e toda pinta da tua pele se avermelha no contato com o ar.
Tu mastiga tua angústia com raiva e, embora possua a delicada e mórbida textura
da neve, o gosto que te fica na boca é quente e amargo. Pouco importa se tuas
pernas cruzadas se colocam uma por sobre a outra e tu se paralisa, as costas
grudadas nas costas da cadeira. Não importa: se teu choro sair, se teu choro
for vivo, se teu choro manchar o banco, toma aqui o pano e seque a superfície.
Olhares enviesados para a tua paralisia, há tantos outros para ocupar o mesmo
banco. É injusta tua falta de flexibilidade. Não se move porque não quer, não
anda porque teima em restar. Tu não vai mudar nunca e as cadeiras vão ser
insuficientes para o teu desespero. Tu falhou no objetivo da vida, tu não foi o
que esperavam as mãos nas tuas costas, tu ocupa os bancos de lágrima como se
tivesse direito aos bancos. Nossas bocas passam julgando teu desânimo, nos esquecemos de quantos remédios andamos nós também tomando para nos mover dos bancos e
deixá-los secos e plácidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário