Porque tu sabes que é de poesia
Minha vida secreta. Tu sabes, DIonísio,
Que a teu lado te amando
Antes de ser mulher sou inteira poeta.
(Hilda Hilst - Ode descontínua e remota para flauta e oboé)
hermeticamente
ajusto no corpo a armadura
não para me defender
de espadas
pois no tecido
em que fui forjada
nada me invade
embora se possa sentir
a mínima
farpa
se ajusto a armadura no corpo
e procuras o motivo
sob o metal intacto
é para que nada saia
e tudo viva em mim
inalterado
para que não me vejas
o peito repleto
com marcas de farpas
que não entraram
poluído
por uma fenda no meu torso
contraido
vejo passar um rio cínico
como se nada nos últimos anos
como se meu rosto ainda intacto
de esperanças
passa um rio nas fendas
era poluído e embora eu
emende, caem pedaços
purulentos
de músculos
apodrecidos
por uma fenda em meu silêncio
límpido
passa o rio de dejetos
eu devia ter ficado quieta
poupado na garganta
as palavras certas
tê-las racionado
mas me desabotoavas
os mistérios
teu rio apodrecendo
o verbo dito
faz a garganta
um cemitério
perdas
num jardim pálido
encaro minhas mãos
monocromáticas
sei que esqueci
(mas o quê)
um rio desafia os lábios
como túmulos lotados
em solo rente
o cheiro reincide
no jardim sem pétalas
minhas mãos
monocromáticas
acostumam-se aos poucos
a costurar as negativas
Adorei os 5 poemas e o fato deles terem uma relação. Achei todos sensacionais, e me identifiquei completamente com os 5, principalmente com hermeticamente, poema sem aurora e outra invasão.
ResponderExcluir'' no jardim sem pétalas
minhas mãos preto-e-branco
estão frias e acostumadas
a sempre costurar
as negativas''.
Parabéns pelo trabalho.