Gostaria de copiar palavras
de quaisquer escritos antigos para falar de ti. Eu
queria achar em cadernos palavras prontas, para não precisar sugar de minhas entranhas
aquilo que não está pronto para ser sugado. Eu não estou pronta para ser sugada
em memórias que eu sempre torno maiores que eu. Sabe como se apagam as memórias
que ninguém deseja? Pense em como tu me apagaste e vai me apagando. Não é
preciso máquinas ou citações de Pope, nem é preciso a decisão – o meu problema
é que tudo que tento é tão decidido que eu não consigo. Sabe como é que se
esquece? Além de não pensar, e aí de novo eu falho e vocês não. Não revolver cadernos
e bilhetes antigos também é uma maneira de eles não existirem: nem os guarde, e
se os guardar que seja de esquecimento. Assim, eles se perdem mais do que se
tivessem sido rasgados ou queimados em ápices. Diz a lenda que se queimamos
bilhetes eles nunca mais nos deixam. É por isso que nunca queimo nada, e se as
coisas não me deixam eu posso dizer que é por vontade própria e não por
desconhecimento de como abandonar-me. Eu nunca deixo nada, e é por isso que eu
não te deixo. Eu posso nunca mais te soltar verbo nenhum, e tu não saberá nunca
mais o gosto de minha voz, mas a minha presença insiste dentro da simulação de
tua presença que guardo dentro de mim. Dentro de mim, guardo simulações de
presenças, e a elas eu importo. E então estou bem. Mas não era nada disso que
eu ia dizer.
Eu ia falar sobre o
oblívio. Oblívio é uma palavra linda, eu adoro sons de “l” e de “i” e ela
parece ser líquida o suficiente para combinar com o esquecimento. O oblívio acontece
principalmente para quem não quer nem deixa de querer. Estás indiferente a mim,
então vais me esquecer. Eu digo isso me envolvendo a mim mesma como em um
cobertor e me dá um prazer. Me esquece, e eu me envolvo, meu corpo se enrola e
é sozinho, isso me dá um prazer. Todos aqueles que me amaram esqueceram de mim,
e isso me dá um prazer. Isso não me dá prazer nenhum. Ao menos não dito dessa
forma. O prazer está só na sutileza, na singularização. Se eu torno em regra geral
assim eu chego muito perto de morrer. Eu nunca devia ter dito isso, agora nunca
mais vou poder esquecer. Eu vou voltar ao que eu queria dizer, eu só queria dizer
como esquecer. E para que digo? Se não há nada mais que eu precise te ensinar
sobre o assunto. Eu não sinto tua falta nenhum pouco, meu único dó é que tu não
tenhas aprendido a abrir minhas portas, e minha única tristeza é que quando
esqueces de mim eu perco importância. E
sei que não é necessário, mas eu digo mesmo assim, para atestar minha derrota.
Crie outras lembranças em cima das minhas, pegue os mesmos lugares e as mesmas músicas e os mesmos filmes e imprima por cima deles o que quiser, flores, dinossauros. Pegue aquele banco, por exemplo, e leve lá uma bela moça da Colômbia de nome exótico que caberia em qualquer poesia. Leve-a lá, lhe dê um orgasmo e escreva depois um poema. Foram rejeitadas quaisquer lembranças anteriores, nunca existiu um mesmo lugar no passado. Vai ser fácil, tua memória sempre foi fraca perto da minha, é preciso muito menos abalo para que se rompa, pode ser sutil. Leve amigos e salgados para todos os lugares onde pisamos, ache uma sala escura com um piano, é preciso pouco para esquecer. Toque uma música diferente. Estou aqui enrolada com meus cadernos e lembranças, e estou bem, eu nunca deixei de estar bem. Ainda escuto as mesmas canções, embora vez ou outra descubra alguma nova.
Crie outras lembranças em cima das minhas, pegue os mesmos lugares e as mesmas músicas e os mesmos filmes e imprima por cima deles o que quiser, flores, dinossauros. Pegue aquele banco, por exemplo, e leve lá uma bela moça da Colômbia de nome exótico que caberia em qualquer poesia. Leve-a lá, lhe dê um orgasmo e escreva depois um poema. Foram rejeitadas quaisquer lembranças anteriores, nunca existiu um mesmo lugar no passado. Vai ser fácil, tua memória sempre foi fraca perto da minha, é preciso muito menos abalo para que se rompa, pode ser sutil. Leve amigos e salgados para todos os lugares onde pisamos, ache uma sala escura com um piano, é preciso pouco para esquecer. Toque uma música diferente. Estou aqui enrolada com meus cadernos e lembranças, e estou bem, eu nunca deixei de estar bem. Ainda escuto as mesmas canções, embora vez ou outra descubra alguma nova.
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